Roberto Shinyashiki
Um
dia você acorda e percebe que muitas coisas que achava normal começam a
deixá-lo chateado, como escutar reclamações dos seus colegas de empresa
porque não fez o combinado, ou tomar uma dura do chefe porque seu
trabalho está ruim.
Você fica sem jeito de pedir um dinheiro extra a
seus pais. Esperar pelo namorado que você ama, mas que nem lhe dá
satisfação pelo atraso, começa a incomodar demais. Você liga para sua
amiga, convida-a para sair, e ela diz que não pode, pois foi promovida
no emprego e está muito ocupada estudando para o novo cargo. O seu amigo
de infância liga e convida-o para tomar um chope, porque quer comemorar
a compra do apartamento novo, e você se sente inferiorizado.
É, parece que alguma coisa não está indo muito bem!
Você fica sem graça ao ver seus amigos falando sobre
suas vitórias, por não ter as suas histórias para contar. Você ainda
tenta justificar para si mesmo que é só uma questão de tempo para suas
vitórias acontecerem, mas começa a ouvir a voz da sua consciência lhe
dizendo que alguma coisa está errada, que não deveria ser assim. O mais
forte é a sensação de que você nasceu para uma felicidade que ainda não
encontrou. É a impressão de que existe algo melhor à sua espera, que
precisa ser alcançado com urgência. Sente que, de alguma forma, você
está ficando para trás e desperdiçando as oportunidades da sua vida.
Ao mesmo tempo em que o desconforto aumenta, a voz
do medo começa a martelar a sua consciência: "Para que largar as minhas
coisas?", "Para que me matar no trabalho se eles não valorizam
ninguém?", "Quando for promovido, vou mostrar a minha competência.",
"Para que me preocupar com minha namorada se tem tanta gente querendo
sair comigo?".
A cabeça da gente começa a ficar confusa escutando duas vozes ao mesmo tempo.
Uma diz para avançar e pagar o preço: "Vá em frente!".
A outra diz: "Você não precisa disso! Relaxe que ainda não chegou a hora. Deixe as coisas como estão!".
Essas vozes vão se repetindo em nossa cabeça,
exatamente como aquela cena em que a gente perde um pênalti no final do
campeonato da escola — você lembra? A gente fecha os olhos e a cena
aparece. Liga a TV e a cena aparece de novo.
Isso começa a gerar uma angústia tão grande que as
pessoas que não têm coragem de avançar de verdade na vida começam a
tentar calar essas vozes. E fazem isso, muitas vezes, apelando para o
álcool, o exagero na comida e até mesmo passando a usar drogas mais
pesadas.
Tudo isso são coisas que só calam as vozes por
alguns momentos. No dia seguinte, elas voltam com mais cobranças: por
que você bebeu desse jeito? Você não vê que está gordo de dar dó?
Meteu-se com drogas de novo, não é? Como você pensa que vai sair dessa?
Você percebe que nada acalma a sua ansiedade. Nada disso é solução.
O único caminho é escutar a voz do coração e seguir em frente.
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